Surround seiscentos ponto um
O jornal Correio Brasiliense convidou Leonardo Lacca para escrever um texto sobre suas impressões do festival de Brasília. Aqui está o texto completo. O título é o mesmo do post.
Aqui nos encontramos novamente, público de Brasília. Tento apresentar nesse espaço minhas impressões sobre o festival. Acho que se fosse jornalista demoraria bastante tempo para me acostumar e ter um sono tranqüilo. Refiro-me ao grau de responsabilidade que é expor uma opinião num espaço público, nos meios de comunicação. Cautela. Sei que essa responsabilidade se estende ao fazer cinema. No entanto, o que me faz dormir tranqüilo - apesar das vaias que povoaram meus sonhos na noite seguinte à exibição do meu filme no festival - é o respeito que tenho pelo público e pelos personagens que crio. Não os subestimo. Não cedo, nem faço concessões. Tento não reproduzir nem alimentar a mediocridade audiovisual. Já basta o bombardeio do dia-a-dia. Por isso, não faço filme pensando num público alvo. Prefiro ser o contraponto. O filme por si só encontra seu público e dialoga com ele.
Muitas vezes me perguntaram sobre a sensação de ser vaiado pelo público brasiliense. O silêncio ensurdecedor da minha sinopse se transformou em uma vaia ensurdecedora. Uma espécie de surround seiscentos ponto um. Confesso que me senti encolhido na confortável cadeira do Cine Brasília. Quantidade faz diferença nesses momentos. Percebi o lado bom no dia seguinte durante debate, quando pude ouvir a polêmica causada por “Décimo Segundo”. O famoso conflito narrativo se mostrava bem claro para todos na vida real, diferentemente no meu curta, que poucos conseguiram identificar. A experiência gerada pelo debate ao longo de todo festival me transformou. O diálogo transforma. A minha vontade era de conversar com cada um que vaiou meu filme, queria ouvir algo mais do que um primitivo "úúúúú". Para isso tive uma idéia para tornar essa experiência menos unilateral. Caso sinta um impulso incontrolável, mande sua vaia em forma de palavras para o sac-decimosegundo@gmail.com, um e-mail especial que criei para ouvir vocês.
Muitas vezes me perguntaram sobre a sensação de ser vaiado pelo público brasiliense. O silêncio ensurdecedor da minha sinopse se transformou em uma vaia ensurdecedora. Uma espécie de surround seiscentos ponto um. Confesso que me senti encolhido na confortável cadeira do Cine Brasília. Quantidade faz diferença nesses momentos. Percebi o lado bom no dia seguinte durante debate, quando pude ouvir a polêmica causada por “Décimo Segundo”. O famoso conflito narrativo se mostrava bem claro para todos na vida real, diferentemente no meu curta, que poucos conseguiram identificar. A experiência gerada pelo debate ao longo de todo festival me transformou. O diálogo transforma. A minha vontade era de conversar com cada um que vaiou meu filme, queria ouvir algo mais do que um primitivo "úúúúú". Para isso tive uma idéia para tornar essa experiência menos unilateral. Caso sinta um impulso incontrolável, mande sua vaia em forma de palavras para o sac-decimosegundo@gmail.com, um e-mail especial que criei para ouvir vocês.
Sobre o festival como um todo, uma sensação estranha de incoerência que sinto pela necessidade de ineditismo das obras e pela exclusão da exibição digital não abandona meus pensamentos. Uma forma de estruturação insensata que apenas colabora para firmar mais ainda o Festival de Brasília como um universo paralelo de ostentação e glamour cult, com um público hedonista de ego inflado. Foi o meu primeiro contato com o festival, mas para mim uma crise de identidade ficou clara. Muita coisa está em xeque. Mas talvez seja uma daquelas famosas crises do quarenta, normal, como dizem.
Leonardo Lacca
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